Sou um baita chorão. Choro por qualquer coisa que qualquer outro homem talvez não chorasse: cenas de novelas, casais (des) e apaixonados, gente como a gente pedindo nos semáforos, por entes que se foram, pelos entes que ficaram, por notícias em jornais, por aqueles que também choram. E antes que me venham dizer que homem não chora nem por nem por amor, como canta o Frejat, alerto: falem, porque se tem uma coisa das quais não me envergonho, é de chorar.
Choro um choro doído. E não somente quando a dor é insuportável, mas também como forma de expressar de minha empatia. Chorar, muitas vezes, é um importante canal de diálogo que abro com o mundo e comigo mesmo. É a drenagem que discretamente ofereço a minha alma; a válvula de escape por vezes tão necessária.
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Recentemente, assistindo a um compilado dos principais acontecimentos da década de noventa, me flagrei aos prantos durante a exibição das reportagens sobre a morte de Ayrton Senna, gravadas à época de seu trágico acidente. No dia em que ele morreu eu só tinha cinco anos e, se não fossem as falsas memórias que criei a partir de então, pela intensa exibição do fato na mídia, certamente eu me recordaria muito pouco daquele que se tornou um dos mais renomados (quiça o maior) ídolos do esporte brasileiro. Mas por que chorar por alguém tão distante de mim?
Comecei a refletir sobre o que acabará de ocorrer. Por mais que com cinco anos eu devesse estar mais interessado em brincar de outras coisas que não fossem os grandes prêmios de fórmula um, as lembranças de Ayrton Senna me fazem rememorar uma parte de minha vida que passou e não mais voltará. Uma parte pra lá de boa, diga-se de passagem. E é por ela que choro este choro bom, mas que dói tanto quanto os outros.
Tendo especialmente o “Tema da Vitória” como fundo musical, as imagens de Senna representam para mim os inúmeros domingos em família e o estranhamento diante de meus primeiros passos no kart, motivado por desejos alheios que certamente também por elas foram influenciados. Hoje, representam o que foi minha mãe, companheira fiel de meu pai, que alternava sentimentos de alegria pelo que assistia na TV, e de apreensão pelo que via ao vivo nas pistas de rua nos kartódromos e entorno da cidade. Representam minha saudade.
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O automobilismo já ficou pra trás há muito tempo, enroscado numa dessas perigosas curvas da vida. As lembranças e as lágrimas, não.