domingo, 12 de junho de 2016

voar é preciso

Pela janela, admirava cada uma das formigas aladas que deixavam o ninho. Preparadas para o acasalar, o tempo delas era o consolo que impunha à leitora um breve parênteses pra contemplação da cena.

Prendia-lhe a leveza do rito. Não se conhecem, pensava, mas o cumprem sem esperar que tenham umas às outras no próximo inverno. Suas histórias se dão num único e triste voo nupcial. 

A revoada cortinava a tarde quando andorinhas fizeram dela seu verão. Interrompida a cena, já era hora de voltar ao livro, à última frase, ao ponto final: "(...), viver é impreciso."

Então ela abaixou o vidro e, num ato de valentia, também voou.

10-jun/2016