Separei alguns dos trechos que mais me interessaram nos diálogos da clássica obra de Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray. Publicado em 1981, o romance conta a história fictícia de um jovem dândi do século XIX, envaidecido por sua beleza, que vive o paradoxo burguês presente na época (?) de alimentar o corpo em detrimento da alma. Sem delongas, vamos ao que interessa:
(1). Mas o caminho dos paradoxos é
o caminho da verdade. Para testar a verdade, precisamos vê-la na corda baba. É
quando as verdades se tornam acrobatas que podemos julgá-las. (p. 47)
(2) (...) eis um dos grandes
segredos da vida. Nos nossos dias, a maioria dos homens morre de uma espécie de
senso comum rasteiro; e descobre, quando já é demasiado tarde, que as únicas
coisas de que nunca nos arrependemos são as nossas tolices. (p. 49)
(3) Quanto piores os versos, tanto
mais pitoresco é o poeta. O simples fato de haver publicado um livro de sonetos
de segunda ordem torna um homem absolutamente irresistível. Ele vive a poesia
que não soube escrever. Os outros escrevem a poesia que não conseguem
concretizar. (p. 63)
(4) Assim, começara a vivissecção
sobre si mesmo e a continuava nos outros. A vida humana: eis a única coisa que
vale a pena pesquisar. Não há valor que se lhe possa comparar de fato.
Realmente, quando se observa a vida no seu crisol de dor e de prazeres, não é
possível cobrir o rosto com uma máscara de vidro nem impedir que os vapores
sulfurosos nos ofusquem o cérebro e nos turvem a imaginação com fantasias
monstruosas e sonhos disformes. Há venenos tão sutis que, para os conhecer,
cumpre experimentá-los. Há males tão
estranhos que, para lhes entender a natureza, é preciso contraí-los. Ainda
assim, que grande recompensa recebe o observador! Em que maravilha se torna o
mundo aos seus olhos! Notar a lógica singular e inflexível da paixão, a vida
colorida e emotiva da inteligência... verificar onde se cruzam e onde se
apartam, em que ponto estão em uníssono ou discordam... que delícia! Que
importava o custo? Não há preço demasiado alta para semelhante sensação. (p.
64)
(5) Corpo e alma, alma e corpo –
que dupla misteriosa! Há animalismo na alma; e o corpo tem os seus momentos de
espiritualidade. Os sentidos podem adquirir requintes, como o espírito está sujeito
a degradar-se. Quem saberá dizer onde cessa o impulso carnal e onde começa o
impulso físico? Como são superficiais as definições arbitrárias dos psicólogos
banais! E como é difícil orientar-se entre as teses das várias escolas! Estará
a alma instalada na casa do pecado, ou o corpo inserto realmente na alma, como
pensava Giordano Bruno? A separação entre espírito e a matéria é um mistério;
como é um mistério a união do espírito com a matéria. (p. 65)
(6) A vida é muito curta para
tomarmos às costas o fardo os erros alheios. Cada um vive como quer e paga pelo
que faz. Só é triste que muitas vezes se deva pagar por uma só falta. (p. 186)
(7) Ademais, Dorian, não se iluda:
não se governa a vida com a verdade ou as intenções. A vida é uma questão de
nervos, de fibras, de células de formação lenta, onde o pensamento se aloja e a
paixão esconde os seus sonhos. Você poderá julgar-se salvo e considerar-se
forte. Mas lá um dia... uma gradação de cor em um quarto ou no céu matinal, um
dado perfume que outrora você adorava e lhe traz recordações sutis, um verso
esquecido, a cadência de uma página musical que deixou de tocar... Creia-me,
Dorian, é de coisas assim que depende nossa vida. (p. 211)
10/ago-2014
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