quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ipê amarelo

ipê amarelo —
o faxineiro varrendo
sem olhar p'ra cima...

tania d'orfani

Curitiba, ontem.

domingo, 10 de agosto de 2014

o retrato de Dorian Gray

Separei alguns dos trechos que mais me interessaram nos diálogos da clássica obra de Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray. Publicado em 1981, o romance conta a história fictícia de um jovem dândi do século XIX, envaidecido por sua beleza, que vive o paradoxo burguês presente na época (?) de alimentar o corpo em detrimento da alma. Sem delongas, vamos ao que interessa:

(1). Mas o caminho dos paradoxos é o caminho da verdade. Para testar a verdade, precisamos vê-la na corda baba. É quando as verdades se tornam acrobatas que podemos julgá-las. (p. 47)

(2) (...) eis um dos grandes segredos da vida. Nos nossos dias, a maioria dos homens morre de uma espécie de senso comum rasteiro; e descobre, quando já é demasiado tarde, que as únicas coisas de que nunca nos arrependemos são as nossas tolices. (p. 49)

(3) Quanto piores os versos, tanto mais pitoresco é o poeta. O simples fato de haver publicado um livro de sonetos de segunda ordem torna um homem absolutamente irresistível. Ele vive a poesia que não soube escrever. Os outros escrevem a poesia que não conseguem concretizar. (p. 63)

(4) Assim, começara a vivissecção sobre si mesmo e a continuava nos outros. A vida humana: eis a única coisa que vale a pena pesquisar. Não há valor que se lhe possa comparar de fato. Realmente, quando se observa a vida no seu crisol de dor e de prazeres, não é possível cobrir o rosto com uma máscara de vidro nem impedir que os vapores sulfurosos nos ofusquem o cérebro e nos turvem a imaginação com fantasias monstruosas e sonhos disformes. Há venenos tão sutis que, para os conhecer, cumpre experimentá-los.  Há males tão estranhos que, para lhes entender a natureza, é preciso contraí-los. Ainda assim, que grande recompensa recebe o observador! Em que maravilha se torna o mundo aos seus olhos! Notar a lógica singular e inflexível da paixão, a vida colorida e emotiva da inteligência... verificar onde se cruzam e onde se apartam, em que ponto estão em uníssono ou discordam... que delícia! Que importava o custo? Não há preço demasiado alta para semelhante sensação. (p. 64)

(5) Corpo e alma, alma e corpo – que dupla misteriosa! Há animalismo na alma; e o corpo tem os seus momentos de espiritualidade. Os sentidos podem adquirir requintes, como o espírito está sujeito a degradar-se. Quem saberá dizer onde cessa o impulso carnal e onde começa o impulso físico? Como são superficiais as definições arbitrárias dos psicólogos banais! E como é difícil orientar-se entre as teses das várias escolas! Estará a alma instalada na casa do pecado, ou o corpo inserto realmente na alma, como pensava Giordano Bruno? A separação entre espírito e a matéria é um mistério; como é um mistério a união do espírito com a matéria. (p. 65)

(6) A vida é muito curta para tomarmos às costas o fardo os erros alheios. Cada um vive como quer e paga pelo que faz. Só é triste que muitas vezes se deva pagar por uma só falta. (p. 186)

(7) Ademais, Dorian, não se iluda: não se governa a vida com a verdade ou as intenções. A vida é uma questão de nervos, de fibras, de células de formação lenta, onde o pensamento se aloja e a paixão esconde os seus sonhos. Você poderá julgar-se salvo e considerar-se forte. Mas lá um dia... uma gradação de cor em um quarto ou no céu matinal, um dado perfume que outrora você adorava e lhe traz recordações sutis, um verso esquecido, a cadência de uma página musical que deixou de tocar... Creia-me, Dorian, é de coisas assim que depende nossa vida. (p. 211)

10/ago-2014

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

é tudo que sinto

Inverno 
É tudo o que sinto 
Viver 
É sucinto.

p. leminski

Curitiba, ontem.