Conheces o nome que te deram,
não conheces o nome que tens.
Todos os nomes apresenta ao leitor as aventuras do senhor José, um solitário auxiliar de escrita da Conservatória Geral de Registro Civil da cidade, que possui o hábito – peculiar como todo hábito há de ser - de colecionar recortes e verbetes de personalidades famosas.
Residente em uma pequena casa que divide paredes com seu próprio local de trabalho, a Conservatória Geral de Registro Civil da cidade, mal sabe o senhor José que na tentativa de complementar sua coleção com informações sigilosas das personalidades famosas, pelas quais somente funcionários da Conservatória têm acesso e, mais especificamente ele, por ter entre seu quarto e o arquivo dos registros apenas uma porta que os separa, encontrará o senhor José, por acaso, a figura de uma mulher anônima e desconhecida, como descreve o autor, que será responsável pela jornada mais intensa da vida tão pacata deste singelo protagonista. Responsabilidade, esta, atribuída à mulher desconhecida até o momento em que o leitor percebe no texto, via fragilidade do senhor José, o quão cada um de nós é responsável por suas escolhas e consequências que elas nos trazem.
A capacidade de Saramago transformar questões cotidianas em grandes fatos a serem narrados reforça o que há muito tempo os cientistas da subjetividade humana procuram alertar: somos afetados de maneira e intensidades diferentes por àquilo que a primeira vista tem a mesma matéria, por mais simples que aparentem ser. Internamente, produzimos histórias, vivemos odisseias, criamos e reproduzimos pequenos mundos com valores próprios e que, quando confrontados, supomos se tratar de subestimação do que carregamos.
O título da obra, por exemplo, supostamente remete ao que é parte diária do trabalho do senhor José, e vincula o enredo às suas atividades laborais na Conservatória Geral do Registro Civil que, por sua vez, guarda todos os nomes e informações dos habitantes da cidade. Isso não implica que os demais personagens também sejam nomeados. Pelo contrário: José é o único a ser chamado pelo nome. Significa dizer que, mesmo frente a rotina diária a que estamos expostos, ainda há espaço para valorarmos nossa história e o que nos é subjetivo. Nomear, em outras palavras, é atribuir existência.
Únicos mas plurais, como em ensaios anteriores, novamente somos nomeados José. Para proceder a partir disso, não identifico outra pergunta que cause movimento senão essa: E agora?
17/jul-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário