terça-feira, 8 de julho de 2014

breves reflexões sobre a morte

Senhoras e senhores, trago boas novas: 
eu vi a cara da morte e ela estava viva!

Tenho refletido muito nos últimos meses sobre o fim da vida. Mas antes que isso lhes pareça um fantasiado pedido de ajuda, aviso que minhas reflexões não possuem ideações suicidas.

É que sempre tive muito medo da morte e do que viria depois dela (para quem vai e para quem fica). Lembro-me que, quando criança, não foi uma nem duas vezes que me vi perguntando aos familiares como era o luto da morte. Suponho que, para mim, este estava muito mais relacionado à expressão física da dor da perda, refletida no pranto dos entes ao redor, do que propriamente ao “sentir a morte” no dia-a-dia e na vida que haveria de continuar. Queria eu, criança, adiantar os sentimentos e me preparar de alguma maneira para o momento em que teria de enfrentá-lo(la) pra valer.

Luto, hoje eu diria, é muito mais do que fases e frases pelas quais a ciência se ocupa. Ele é a nossa expressão mais subjetiva possível, que apresenta nosso lugar no mundo e na história, nos confronta e nos demonstra de quão aparatos frágeis somos compostos. A morte, portanto, deveria ser tema constante nas disciplinas curriculares do círculo familiar e das escolas. Assim, quando precisássemos enfrentá-la, saberíamos lidar com nossos pensamentos e manifestações oníricas que ora trazem a presença de quem já foi, e ora tendem a marcar apenas a sua falta, de uma maneira que nos fosse menos assustadora possível. Na morte e no luto, o verbo elaborar está intimamente ligado às fantasias e medos, e ocupa grande parte de nossas vigílias e de nossos sonhos.

Mas morrer é parte da vida e do jogo, como bem alerta a tanatologia. Nasceu, morreu – é assim e não há alternativa. Mesmo que isto soe deveras racionalista, a verdade é que se a própria vida não é eterna, não há motivos pra que a morte também o seja: o corpo se transforma em pó, as lágrimas em lembranças e a morte vira abstração. Senti-la, então, passa a ser um constante "carregar as marcas" do que já foi e de tudo àquilo que poderia ser. 

08/jul-2014

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