quarta-feira, 20 de maio de 2015

a sabedoria nos chega quando já não serve pra nada

Imagem daqui

Já nas primeiras páginas de “O amor nos tempos do cólera” Gabriel Garcia Marquez faz uso da frase acima. Não é a primeira vez que percebo essa “insatisfação” do escritor que, na data de publicação do livro, já caminhava rumo a velhice. Salvo melhor lembrança, também encontrei manifestações semelhantes em “Cem anos de solidão”, “Memórias de minhas putas tristes” e, com mais intensidade ainda, em “Ninguém escreve ao coronel”.

O curioso é que suas mais renomadas obras (e nesse caso as renomadas são as melhores) tratam exatamente do amor, da morte e da solidão - assuntos que não seriam abordados com tanta propriedade se a sabedoria não lhe servisse mais, como sugere sua "queixa" inicial. Inerentes à condição humana, são explorados naturalmente do ponto de vista de quem os vivenciou e, portanto, de alguém com autoridade para fazê-lo (mesmo que pela boca de seus personagens). El Gabo aborda dilemas existenciais que hora ou outra se farão presentes em nosso pensamento e talvez por isso nos toquem com tamanha intensidade.

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Quando a engrenagem da vida ganha força, o melhor a se fazer é tirar o pé do acelerador. Ouvir outras e novas canções, ficar sem conexão com a internet por uns dias, retomar a leitura daquele livro que ficou pela metade, cultivar uma planta, andar de bicicleta, mudar o trajeto até em casa, ensimesmar-se. Até hoje os cientistas se rendem a descoberta de que o homem, para encontrar sentido naquilo que é ou deixa de ser, precisa buscar constantemente uma autorreflexão. 

Para nós reles mortais, que ainda não desenvolvemos a capacidade de trabalhar nossas angústias na escrita, por mais que tentemos e tentemos fazê-lo, pode ser que o recolhimento em si seja o primeiro passo para que alcancemos a sabedoria sem que futuramente impere a sensação de que, se soubéssemos isso antes, teríamos feito diferente. Porque como nos alerta o velho deitado, tarde demais é sempre tarde demais. 

20/maio-2015

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